Para quem não é psicólogo, cito um dos filósofos mais importantes na teoria da Fenomenologia, um tipo de terapia utilizada em o filósofo Heidegger. Embora não tenha sido ele o criador do termo. Husserl é quem apresenta a fenomenologia como um método de investigação que tem o propósito de levar as coisas sensíveis à consciência. Já Heidegger é quem vai tratar da existência humana e é extremamente complexa sua teoria, mas gostaria de trazê-la com exemplos dentro do BDSM, utilizando a fala de um escravo. Ele escreveu um livro básico para nós da área, O Ser e o Nada. Nesse livro ele vai tratar de dois conceitos fundamentais que é o ser e o ente e a famosa frase que ficou mais conhecida nos textos de seu colega, Jean-Paul Sartre: "A Existência precede a essência." No caso, o “ser” é a existência e o ente é o que se apresenta para nós. Complicado? O ente é tudo que materialmente se apresenta para nós e podemos estudá-lo de forma científica, estudo ôntico. Pegamos como exemplo um homem que chega a mim e tem um discurso, um corpo, uma inteligência, mas se diz não ser realizado, ser um nada, mas quer se entregar a mim para moldá-lo, usá-lo, escravizá-lo e tudo que vocês conhecem, mas ele se diz “virgem” nesse assunto de BDSM, só tem uma ideia do que é, um desejo nunca realizado e se coloca a meu dispor para estudá-lo. Essa pessoa é um ser ai, um ser no mundo e nada mais.
O que é o ser? Como ele precede o ente, não temos acesso a esse ser do exemplo, somente por uma investigação filosófica. Exemplo: Porque este homem quer se anular e entregar-se a mim para que eu faça dele o que desejar? É algo filosófico, ontológico. Antes de Heidegger, tínhamos a metafísica para responder a tudo e no ocidente, pelo menos, era uma explicação divina (onto-teológico). Seguindo os conceitos cristãos, será blasfêmia eu ser chamada de Deusa, ou pior, ser superiora a um homem. Com a fenomenologia, isso não é mais uma barreira.
Se o indivíduo não sabe o que veio fazer no mundo tem dificuldade de viver feliz ou ter uma vida digna, pode levar angústia. Essa metafísica e essa manipulação da classe dominante científico-cultural leva mais a incertezas e valores complexos, não deixando o indivíduo saber o que é certo ou errado no momento de agir ou atuar na vida.
Nós temos o livre arbítrio e através de nossa consciência podemos tomar um rumo que ele escolher, mesmo que se arrependa posteriormente. Vamos ao diálogo.
Eu: VC JÁ SE ENTREGOU A UMA SESSÃO REAL?
Escravo: “Nunca antes de ser reconstruído pela Senhora, percebo-me virtualmente "destruído" na totalidade, confesso que são tantas visões, sinto que preciso conter-me. A razão de ser é a Senhora, o que sonho ou vislumbro é irrelevante, sem significado, a menos do que a Senhora própria vislumbra, preso em espaços confinados, úmidos, escuros, sem possibilidade de movimentação... apenas a Senhora e nada mais...”
Eu: “Complexo internalizar... eu sinto esta vontade de fazer de um homem meu escravo, um "verme", "traste" e depois de absolutamente vergado, destruído, a custa de dores, humilhações e degradações absolutamente extremas, ter este "ser" reconstruído como algo novo... é bom saber que está decidido a isso”
Escravo: “sim, Senhora... já aprendi que o gosto das cinzas de cigarro na boca é geradora de muito nojo, gosto terrível que perdura... já senti o lombo queimando como se brasa tivesse sido colocada no mesmo pelo uso do chicote... já bebi licor dourado, já fui exposto a velas e amarrado... mas confesso que não vivi nem perto de tudo que há para ser vivido. Confesso contudo que conversando com a Senhora, compreendo que para renascer tudo que era o passado há de ser "Varrido", apagado, anulado, ao menos até que a destruição/reconstrução estivesse completa, Senhora... sempre em mente que é um ponto de vista "genérico", pois realmente tenho ciência de que o que penso é irrelevante. O enclausuramento seria permanente na mente, tendo o corpo enclausurado ou não, Senhora?”
Eu:” O que eu eu vejo é que você simplesmente não foi na sua vida o que é o seu ser, mas, agora, pesquisando e entendendo seu ponto de vista e olhando o lado filosófico da coisa, você será: O ser a meus pés.”
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